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HOMENS TRISTES

O prazer de trabalhar fazia Ziraldo desenhar assoviando. Desenhar é um trabalho essencialmente solitário, moldado pela concentração que nasce no canal que liga o cérebro à mão. Ziraldo, entretanto, gostava de gente e de movimento. Sempre preferiu trabalhar em casa, muitas vezes madrugada adentro, recebendo amigos, falando ao telefone, assistindo TV. Tudo ao mesmo tempo.

Na época do Pasquim, vivia cercado de amigos geniais tão ávidos por informação quanto ele. Intelectuais e artistas que, como ele, utilizavam a irreverência como trincheira na época da ditadura, dando olés homéricos em censores obtusos. As entrevistas com celebridades da cultura e da política regadas a uísque e risadas imprimiram um estilo que deixou marcas no jornalismo brasileiro.

Nessa alegria de viver e trabalhar, pode parecer não ter lugar uma série de desenhos intitulada Os Homens Tristes. Mas tudo tem dois lados e, no caso de Ziraldo, vários lados.

O papel que forrava a sua prancheta de trabalho era recheado durante o dia com anotações, lembretes e desenhos aleatórios, daqueles que a mão desenha sem pensar. Quando acabava o dia, ou não sobrava mais nenhum espaço em branco, o papel era guardado e substituído por outro. A equipe de Ziraldo sempre guardou seus rabiscos, esboços e estudos. Não jogava nada fora.

Algumas vezes, olhando para um desenho que acabara de surgir, ligava para um amigo pra dizer que tinha feito uma caricatura dele sem querer. Assim, mesmo sozinho, ficava cercado de amigos. Alguns desconhecidos e tristes. Talvez, quem sabe, por estarem distantes.

Uma seleção desses desenhos aleatórios integrou a exposição “Jubileu do Ziraldo: 75 anos de um menino feliz”, no Centro Cultural do Correios, no Rio de Janeiro, em 2007, e em 2018 fez parte da exposição retrospectiva Ziraldo, de A a Zi, no Sesc Interlagos, em São Paulo. Uma significativa parte desses desenhos foi reunida no livro “OS HOMENS TRISTES, E OUTROS DESENHOS”, de Gustavo Luiz Ferreira e Paulo Vieira, editado em 2013, com uma bela apresentação do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar.

Em Destaque

+ Acervo

exposição

Ziraldo… de a a zi

Sesc Interlagos, São Paulo – Outubro de 2018 a Agosto de 2019

editorial

os homens tristes e outros desenhos sem destino

Ed. Melhoramentos, 2013