Jeremias, o Bom

“Jeremias, o bom” é um personagem icônico, uma marca na obra de Ziraldo. Foi Jeremias que tornou o estilo do Ziraldo reconhecível por todos.

Ziraldo havia passado os últimos anos realizando seu sonho de infância. Estava criando e publicando com enorme sucesso a revista em quadrinhos PERERÊ. Com a descontinuação da revista, o sonho acabou repentinamente e Ziraldo ficou sem chão. Um fato que o fez mergulhar fundo na pesquisa de referências e na experimentação.

Na busca de um traço simples e original, revisitou o trabalho de artistas como o francês Tomi Ungerer, o romeno naturalizado americano Saul Steinberg, o inglês Ralph Steadman, Picasso e tantos outros.

A frase dita por Ziraldo “Ninguém sabe o trabalho que dá parecer que desenhei rápido”, revela muito da gênese de Jeremias. A economia de traços traduz a personalidade de um cara especialmente simples.

Jeremias é como um divisor de águas na carreira de Ziraldo. Os pés pontudos e as mãos expressivas representam a composição ousada entre o cartum e os quadrinhos. Os detalhes de elementos do cenário e o uso magistral do preto e branco se transformaram em uma marca que revela o autor sem nem mesmo precisar de sua assinatura.

Em uma sociedade de consumo, reprimida pela censura e oprimida pela violência do regime militar, a bondade de Jeremias valia como uma crítica social bem-humorada dos costumes, representando uma utopia possível. Ele é um homem atencioso, sempre disposto a fazer o bem e ajudar o próximo. “Nove meses passaram tranquilos, e o bom Jeremias nasceu. Não havia parto sem dor, Jeremias, porém, não doeu.”

Começou a ser publicado no Jornal do Brasil em 1966, em plena Ditadura Militar. Passou a ocupar as páginas da revista O Cruzeiro em 20 de janeiro de 1968 e foi transformado em livro em 1969.

O livro ganhou uma reedição em 2007, incluindo desenhos e tiras que tinham sido censurados no período da ditadura no Brasil.